segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Jogos fáceis

Recentemente foi notícia as declarações de Alex Hutchinson, designer de Assassin’s Creed 3 sobre a atual facilidade dos jogos e como isso os arruina. Alex deu como exemplo um shooter com sistema de cobertura (ao estilo de Gears of War) em que no modo fácil não fosse necessário utilizar a cobertura, algo que seria a pior versão possível do mesmo. Será isto verdade? Analisemos então, leitor informado e cronista eclético, todo este assunto sobre dificuldade que tanto atormenta o jogador hardcore do século XXI.

Se olharmos para os primórdios dos videogames, é fácil entender porque é que estes eram tão difíceis. Nos anos 70, a única maneira de jogar era levando algumas moedas para os salões de arcada. Os jogos eram rápidos e frenéticos, eram desenhados para dar pequenas injeções de adrenalina nos jogadores, enquanto estes tentavam comer o último fantasma, matar o último alienígena e chegar ao último checkpoint. É claro que os jogos teriam de ser difíceis, porque não interessava ao designer que o jogador ficasse muito tempo a jogar com a mesma moeda porque, como diz o ditado, tempo é dinheiro. A dificuldade dos jogos era centrada na execução, nos atributos do jogador e, salvo raras exceções, o sucesso ou não do gamer no jogo era determinado pela sua habilidade.


E esta tendência manteve-se durante a primeira geração de consolas de 4 bits e até certo ponto até à de 16 bits, pelo simples facto de que os designers que trabalhavam para as empresas que forneciam os jogos aos salões de arcada eram os mesmos que trabalhavam para as empresas que forneciam os jogos para as salas de milhões de pessoas. No entanto, o nascimento de JRPGs como Dragon Quest e Final Fantasy na NES trouxe às massas o que anteriormente era quase exclusivo da comunidade de jogadores de computador, que era a dificuldade não pela execução, mas sim pela profundidade. Não era uma questão de apenas se o jogador tinha habilidades como a coordenação motora mas também o quanto o jogador entendia as mecânicas do jogo e quão adequadamente as utilizava em cada situação.

Chegando à atual geração de consolas, é fácil constatar que cada vez mais há jogos sem qualquer tipo de dificuldade. Agora, há também uma grande diferença entre os jogos modernos e os jogos da era de 16 bits. Hoje em dia, um vídeojogo não é só gameplay. Aliás, a verdade é que nunca o foi, mas o que eu quero dizer é que a importância dada ao gameplay não é tão grande como outrora. Com a Playstation 3 e com a Xbox 360 chegaram-nos jogos que têm um maior ênfase noutras áreas que outrora não eram assim tão importantes. A história, a música, a direção artística, tudo isto são peças fundamentais e que antes, salvo algumas exceções, eram deixadas para trás. 

A demografia do jogador também mudou bastante, não só com o nascimento do jogador casual do Wii Sports e do Angry Birds, mas o nascimento de um diferente tipo de jogador que, espasme-se o leitor, a nossa comunidade ainda não rotulou. Aquele jogador que, apesar de não dedicar tantas horas aos videojogos como os ditos jogadores hardcore, ainda assim não se fica pelos jogos normalmente marcados como casuais. Um jogador que joga mais pela experiência cinematográfica e pela capacidade de um jogo contar uma boa história do que propriamente pela diversão pura e dura de jogar um jogo. Esse é o gamer que joga em fácil e que segundo Alex está a arruinar os jogos.

Mas a verdade é que não está. Se tem algum efeito na indústria, ele até é positivo, fazendo com que haja mais ênfase noutros departamentos para além do de gameplay.  Mais, se os níveis de dificuldade forem opcionais, não vejo onde isto pode arruinar um jogo. Afinal, cada jogador tem necessidades diferentes, e um jogo que as consegue preencher é um jogo completo e de maior qualidade. Modos como os de Mass Effect 3 e Deus Ex: Human Revolution, os novos modos “história”, que são versões simplificadas em termos de gameplay mas com o mesmo teor de história que a experiência completa, são ideais para trazer mais pessoas para a indústria ou para pessoas que apenas querem apenas jogar um filme interativo. Necessidades diferentes, como disse anteriormente.

Voltando aos jogos serem fáceis. A verdade é que jogos como Dark Souls, com uma grande componente de execução, são agora a exceção e não a regra. Mas será este tipo de dificuldade o que realmente os jogadores desejam? Pessoalmente, não sou uma pessoa com grande coordenação, e portanto nunca jogaria um jogo como Dark Souls ou como Contra, na NES. No entanto, gosto de jogos com uma boa profundidade, que me obriguem a aprender bem as mecânicas do jogo e que as utilize de forma pensada. E esse não será o tipo de dificuldade tão ou mais recompensadora como a outra?

Quando estou jogando FIFA, tenho a mesma sensação de alegria quando faço uma finta difícil como quando faço uma jogada difícil. Na minha opinião, os dois tipos de dificuldades devem-se complementar. No entanto, é bom ver jogos que têm grande profundidade e que pedem também alguma execução. E apesar de tudo, acho que o mercado AAA ainda está bem servido com este tipo de jogos.

Você sabe quando está se tornando um gamer velho?



– Você costumava medir a qualidade de um jogo pela quantidade de memória da ROM (1, 2, 4 mb);
– Classificou a geração pela quantidade de bits por barramento da cpu do videogame (8 bits, 16 bits, 32 bits);
– Ao invés de se preocupar com as notas da escola / faculdade, passa a se preocupar com as contas no final do mês;
– Minto, além das contas do final do mês, vc continua se preocupando com as notas da escola… (dos filhos)…
– Não precisa mais pedir para a tua mãe/pai para comprar um jogo novo. Pede permissão para a esposa / noiva / namorada;
– Não tem mais tempo / paciência para decorar todos os comandos dos jogos de luta;
– Não entende pra que tantos comandos num jogo de futebol. 1 botão para passe curto, longo, correr e chutar são mais do suficientes;
– Tem dinheiro para comprar qualquer jogo, mas… tem de pedir autorização da esposa antes;
– Já não consegue mais varar a madrugada jogando – não que não queira, mas por não conseguir (não ser autorizado);
– Vc conhece todos os jogos da Old Gamer;
– De vez em quando sente saudades da geração 8 bits;
– Tenta explicar para alguns colegas porque o nintendinho era superior ao master system – ou vice-versa;
– De vez em quando ainda se surpreende com sonic no wii;
– Consegue falar de jogos lançados há mais de 15 anos – e se orgulha disso;
– Não entende lhufas dos animes de hoje em dia. Mas consegue explicar facilmente a saga Saiyajins do Dragon Ball Z ou a saga do Santuário do Cavaleiros do Zodíaco. Mas se vc consegue falar tranquilamente sobre Space Battleship Yamato (Patrulha Estelar), além de nerd, gamer, relamente é velho; :)
– Complementem…